A fibra, a carne, a intenção morriam à míngua, como lua minguante às três da manhã. Não havia gesto ou palavra que desafogasse a letra pensada. Deixava tudo para trás, now à deriva, era só sobra de saudade, sombra de rede entre-meada, de não ditos em entrelinhas. Tornou-se uma mistura de pro-secco, omeprazol e aspirina. Por vezes, enquanto tomava vinho, solvia algum dilema. Deixou-se definhar, findou por ali. Enquanto ao longe pontos de luz e lastros de algazarra juvenil anunciavam que era noite de sábado, sozinha, despida até do minuto a mais que o Criador concedeu, tentava acalmar as dores que sentia. Encostada no batente da porta, via a lua surgir. Apagou as luzes, acendeu outro cigarro. Definhava, mas, quem sabe, não era em vão se a saudade pudesse virar poema.
Maria Lemke
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