quarta-feira, 15 de maio de 2019

Avassala(,)dor

Primeiro veio só um verso. 
Depois, num tempo lento, um preenchido de vazios e dores.
Tudo era avassalador. Avassala, dor, avassala, logo. 
Aqui jaz a lembrança de meus caminhos tortos. 
Não tenho sequer um terço. 
Aqui, é tudo torrão de terra seca.
Apressa-te! Põe sobre a lápide as minhas flores!
Lembre-se da vela. 
Lembre-se do amém!
Tua reza é um alento para que eu ande com alguma luz no vale dos mortos, nas terras do além.




So(m)bra

Sou apenas o resto de algo sem nome. 
Animal maltrapilho. 
O pó.
O podre.
O desconhecido apegado ao odre velho,
aquele que brinda com vinagre, zinabre, e amarga o gosto
Aquele sem rosto.
O pobre espírito que vagueia no espaço. 
Aquele de quem quase todos esqueceram.
E sequer se lembram de acender mísera cera.
O morador incerto em jazigo sujo, frio, sozinho, insone.
Aquele que pede oração ao passante.
Aquele que passa a noite errante depois da vida em erros.
A so(m)bra morta que sequer o abutre come.


sábado, 16 de março de 2019