sábado, 29 de setembro de 2018

(P)rumo(s) - ou (c)lave

Tu(do) ia virar poema. Nada escapava. Lá fora, o sol inclemente, lá dentro, os pés descalços, as caixas vazias.  As so(m)bras, os excessos grudados no chão e nas paredes nuas. A tempestade se aproximando na linha do horizonte. Po(e)nte cedendo. A febre fincada à meia-noite, queimando à meia-luz. A  aleg(o)ria mal disfarçada. A falta de rimas, de solfejos, a clave de sol (s)em luz, a chave de abrir sangria sem dó. Canto, toada da terceira nota, na hora nona, tocando (para) mi(m). Ausência de (p)rumos. O arre-medo do avesso a-trave(r)ssando a escuridão. O clamor pela intimidade do além, a alma flertando com a morte nos jardins do tempo. Até os anjos de asa quebrada se protegendo das agruras do silêncio, buscando conforto na solidão de algum templo.

Maria Lemke

Re-juntando

Nenhum poeta escreve sem saudades, sem lembranças, sem saudade funda, sem dor doída. 
Nenhum poeta sobrevive sem urgência, sem se bendizer, sem se maldizer da sorte. 
Nenhum poeta sobrevive sem o não e o sim. 
A poesia sobrevive enganando a tristeza, brincando com a sorte.
Nenhum poeta sobrevive sem intensidade, sem enganar a morte.
Só o poeta sai mudo, fingindo riso, qual arlequim.
                               Sobrevive (s)em fa(r)dos (?) 
                     Nenhum poeta sobrevive sem amor. 
Nenhum amor vive em enganos. 
Todos os poetas cantam tristes, fazem ode às perdas, aos danos.  

Maria Lemke

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Voraz

O  aroma suave de rosas misturado ao desejo inebriava seus sentidos. Cada  pedacinho de pele, cada pelo se arrepiava manifestando desejo, volúpia. Devorado pela vontade voraz, alcançou seu segredo, o vale entre seus seios: era sua fêmea no cio, com gosto molhado entre as pernas. Incontido, tomou-a, enfim, para si. Se amaram, entregues, lambuzados de saliva, suor, gozo e esperma.  


Maria Lemke