sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Leve

Se mundo brotou do som de um beijo, como escreveu o poeta, então o amor deve ter nascido de traços e rabiscos, da poesia, de uma prosa suave que virou poema. O amor deve ter nascido do afago em meio a palavras doces, suaves, serenas. O amor nasceu  pra tornar a vida mais leve, doce, plena.

Maria Lemke

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Encantaria


Atravessou sua carne macia, rompeu suas fronteiras. Penetrou fundo em seus pensamentos, revirou seu mundo. No apre(s)samento da vontade, naquele instante fecundo, tornaram-se fluxo. Num vai e vem cadenciado, desejo, alma, sex(t)o sentido. Fundidos, entrelaçados, eram mais que pernas, braços, ventre, vazante de rio, delicado, escorregadio. Misto de desejo profano e fé. Eram mais que um só. Eram poesia. Juntos, suados, eram gozo divino. Encantaria. Desaguados, eram amantes, cheia de (a)mar-é.


Maria Lemke

Toque

Amenidades se desenrolavam naquela conversa. Blues, sensibilidade feminina, sentidos possíveis, trabalho, solidão e poesia. Entre uma palavra e outra, o gosto de mais. O final da tarde tomou-os noite adentro. A hora nona trazia letras e vírgulas que disfarçavam intenções. Ninguém viu o tempo passar. Meu Deus! Nem a lua lá fora conseguiu desviar a atenção daquelas palavras trocadas, desalinhadas por dedos ágeis, pensou ela.Te(n)são, suores e frio na espinha, disfarçados, contidos se misturavam ao toque leve do coração descompassado. Arisco(s) estavam, arrisco dizer. Mas era inegável: cada um sentia mais do que deixava escapar pelos dedos, no toque da tela.

Maria Lemke

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Tu e eu - Trovinha do engano

Eu não sei onde quero chegar
e só sirvo pra uma coisa
- que não sei qual é!
Gostas de um som de tempestade
[eu, ca(l)-maria a mais leve]
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
[somos só(s) re-versos, re-vistos]

Gosto de graves rituais
[do peso leve da palavra que se trai]
do caos, d(o)-culto, do tempo que (se me) esvai]
[Som suave: piano]
Tu és um co(r)po
[eu, (a-o poeta) "encanecido verme urbano"]

tu, multo
Eu [carisma]
[vestida em flor no corpo, no tecido, pano, pla(i)no]
Hesito entre duas palavras
escolho uma terceira
e no fim só digo o sinônimo.

[É(s) o caminho do meio (?)]
Tu não temes o engano[se me engana]
En(-)quanto eu cismo, [sismo]
Tu-tano
[Eu?? fé-menina, proscrita (de) alma cigana]

PS: perdoe-me Luís Fernando Veríssimo, gosto tanto de ti e, de me achar em ti, não hesito, não resisto... Precisei cortar, cortei... Pensei nas cheias de domingo, nas cheias de mar esperando o Rio e agora que cortei, re-cheio meu domingo com o tutano teu, e (m)eu engano.

Escrito na primavera de 2011.

Maria Lemke

domingo, 12 de agosto de 2018

Eu-f(l)oria

Verso com algum traço de poesia. 
Trama tecida de palavras cruzadas nas entrelinhas. 
Dedos de prosa sem pressa na primeira luz do dia.
Versículo sem malícia, dolo ou maldade. 
É presente pra sua história.
Sem vergonha, te digo: eu-f(l)oria nesses escritos de amizade.

Maria Lemke

Sou(l)

De alecrim, alegria, salsa, rock e manjerona
Manjo pasta com pesto de manjericão
Pizza de madrugada, coca cola, tequila com sal e limão
Pés descalços na terra nua
Corpo tatuado, chei(r)o de rosas.
Confissões na madrugada
Vida dura de outrora, testa enrugada,
Loba brincando entre raposas.
Não seguro a vontade
Voo raso, vou sem aviso
Coração descompassado
Brinco com o passado.
Com o não dito.
Nem poeta ou poetisa.
A que se põe inteira.
Poeteira em palavras nem sempre bem-ditas
Sentido(s) e sentimento
Beijo com mordida, sirvo e sorvo até a última gota.
Boca suja, de batom vermelho e descarada.
maria-sem-vergonha, cabelo ao vento,
fé-menina-bonita, 
Moça com laço de fita.
A travessa em travessia do deserto
Temp(l)o da solidão, temporal e ventania.
Cheiro de chuva, abraços apertados e café forte
Sorte, fado, a que rima amor e morte
Se soubesse quem sou(l), quem sabe, me amaria.

Maria Lemke

(h)a-ventura (?) - Para J.F.

Coragem,  medo, compadrios, amizades, desafetos. Casamentos arranjados, grosso trato. 
Tez dura. 
Fortuna, jogos de azar e sorte, fados, fardos humanos, 
atravessando mares, (sem) medo da morte. 
Homens de grossa aventura.

Maria Lemke

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Orvalha(da)

Ver-só não basta. Pensou ele, enquanto contava, pétala por pétala, as flores que ali (ha)via. 
Sem pressa, transformou-a em som, verso e rima. 
Com as pétalas úmidas, orvalhadas,
era mais que soneto, fonema. 
Era mulher em êxtase, alma nua, (dis)posta num poema. 


Maria Lemke

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Nó(s)

Achei um velho caderno. Capa vermelha, algo desbotada. Folhas amareladas pelo tempo. Lá estava a saudade descrevendo sete horas e quarenta e nove minutos vividos em meio a lençóis, corpos enroscados tocando a alma. Era um escrito sobre o amor. Com um nó na garganta, me (re)li, escrevendo sobre nós.

Maria Lemke

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Corte

A vertigo que sentia era um misto de riso, perdão e dissabor. Torrente de silêncio e memória distorcida, esquecimento dos tempos. Plenitude de vazio e espasmo de dor. Vitória sem triunfo, sem trunfo algum. Viela ladeira abaixo num centro periférico. Abraço da morte espreitando à luz da lua, grito surdo. Surto de solidez e solidão. Rasura de algum risco de sangue que corre em veias outras. Vela que vale para todos os santos. Veleiro sem rumo. Veleidade e verdade não dita. Corte sem cura de lâmina cega. Amor que passa, não dura. 
Ausência de tudo, concretude dissolVIDA em poções de não ser. 


Maria Lemke

domingo, 22 de julho de 2018

NUA-nça

Sofreguidão é uma palavra bonita. Vem do português arcaico. 
Nuançada pelo agora,  a palavra evocava-lhe um  mosaico de lembranças. Pensou em todas as vezes em se encontraram, quando não conseguiram resistir ao desejo, à fúria louca, à urgência da dança dos corpos que os consumia.


Maria Lemke

quinta-feira, 31 de maio de 2018

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Zênite



Autora: Maria Lemke

 Fotografia é a tomada da beleza por uma lente que se(-)quer (é) objetiva.

Maria Lemke

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Fe(e)l


Saudade é como ressaca mal curada, manifestação de algum exagero. Erro do excesso. 
Vômito de sobremesa, de algo doce que sai, deixando por dentro um gosto amargo de fel.

Maria Lemke

domingo, 17 de abril de 2016

Field of Graves - or Feel(s)

Do you feel it? Can you feel it? Do you fell what a feel? 
 On day, we can go home, to a (c)old stone's place.
Let my heart go. Let the rest of my bones Rest In Peace. 
Because, grave, gray, is the day.
Maria Lemke

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

MorphEUs

Um dia você acorda de um sonho com um gosto meio doce e amargo na boca. Lembra de ter sentido pele com pele, boca com boca. Mais que isso. Sentiu as almas se entrelaçarem. Em êxtase, sentiu-se deus. Contente-se: foi real. Contenha-se: foi real enquanto dormias nos braços de Morpheus.

Maria Lemke

sábado, 30 de janeiro de 2016

MorrEU - ou sem figurações

Nem se morre de sede se não for por água doce.
Nem se morre de fome se houver algo para regurgitar
Nem se morre de saudade se não houver amor.
Nem se morre de emoção se o velocímetro não sobe. E sobre isso não há nada para falar.
Sem figurações, sem firulas. Só finAIS

Maria Lemke

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

(O)caso

Entre cacos de vidro, um caos (,) (n)um caso perdido.  Quem sabe num ocaso, num acaso desses, desdizendo minhas cacofonias, eu possa seguir meu caminho.

Maria Lemke